02 abril 2007

A propósito da OTA...

Um artigo excelente de Pedro Rolo Duarte no Diário de Notícias.

Desconfiar, sempre...
Pedro Rolo Duarte
Jornalista


A batalha de argumentos, estudos e palpites sobre a localização do novo Aeroporto de Lisboa entrou na fase a que costumo chamar "de parafuso": daqui para a frente, nunca mais vamos perceber quem tem razão.

Os estudos contrariam-se e todos são credíveis, os políticos contradizem-se e aparentemente todos podem ter razão. No começo, eu só conseguia perceber o que escrevia Miguel Sousa Tavares sobre a matéria. Per-cebia e concordava. Mas agora, com o fogo cruzado da informação e da contra-informação, confesso que já não percebo nada. A Ota serve a toda a gente e a ninguém, que é o pior que pode suceder. Desconfio da Ota, mas... Lá irei...

Claro que gostava de perceber quem ganha e quem perde com o negócio, ainda que entenda que a influência da obra no estado da economia nacional beneficie essencialmente a continuidade do eng. Sócrates no Governo. Obviamente que aguardo "com tranquilidade" que se saiba tudo sobre os terrenos que estão ali à mão de semear - de quem são, de quem eram e a quem podem estar ligados. Também gostava de saber já, e não depois, quais são as empresas financeiras, de construção, de serviços, que estão a ganhar com a Ota mesmo antes de tudo começar. Por fim, tenho esperança de que, caso se confirme que a Ota é a pior solução e vai ser o elefante branco português do século XXI, alguém - organismos autorizados, políticos, jornais, instituições europeias, sei lá eu... - consiga, por denúncia, investigação, ou judicialmente, deitar o monstro ao chão.

Entretanto, eu desconfio da Ota. Eu e, presumo, a esmagadora maioria dos portugueses. Porque sabemos imenso sobre aeronáutica, ventos e deslocação de terras? Porque somos especialistas em aeroportos? Porque lemos detalhadamente todos os estudos e os entendemos? Não, nada disso. Eu e a maioria dos portugueses desconfiamos da Ota porque até hoje nunca nos deram razões seguras, credíveis, sustentadas e indiscutíveis para confiarmos.

Ora, em Portugal, quando não é tudo ab-solutamente óbvio, normalmente acaba mal. Melhor dito, como na Lei de Murphy: quando algo pode correr mal, corre mesmo mal...

Olhem o Túnel do Marquês, olhem o metro no Terreiro do Paço, olhem os estádios do Eu-ro. Olhem à volta, em resumo, e olhem mesmo para quem ganhou o jogo dos Grandes Por-tugueses. É difícil abandonar a lógica simplória, porém, eficaz: quando não há muitas razões para confiar, há todas as razões para desconfiar...

http://dn.sapo.pt/2007/03/28/opiniao/desconfiar_sempre.html

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